cafundó

07 maio, 2006

macro

te vi bem de perto
e apertei os olhos para ver melhor
troquei a lente e te vendo tão
quase fui tua
pele

vi o que não via
o que não estava
o que não parecia fazer parte
vi um detalhe da vida
que nem por vida se passava



depois fugiste do foco:
uma interrupção
um sequestro
um corte desconcertante
do in para o out

saíste atrás de liras e fumaças
e eu abri meus olhos
porque olhar de perto cega o resto
e o resto era nada
e a visão ficou desfocada
e a lente suja
e a vida pouca

voltei para casa embaçada,
míope de mim
ver era doer o mundo
o mundo doendo nos meus olhos
fechei-me em sono
porque se é pra dormir sozinha
prefiro o silêncio.

06 maio, 2006

thempus ex machina

o tempo é máquina de moer
enquanto te esperava roí as unhas
cortei os cabelos
mudei de pele
perdi os números
os sapatos
o endereço
pedi arrego,
desculpas
hortelã, alecrim e prozac
me desidratei, murchei
morri cem vezes

o tempo é máquina de criar
enquanto te esquecia afiei as garras
refiz meu rosto
assimilei o sol
troquei de amigos
de passo
de ares
ganhei espaço
força
hortelã, alecrim e poesia
enchi um mar
explodi em vidas

o tempo é máquina de inventar mentiras.