cafundó

21 janeiro, 2006

skap*


(poema de zeca baleiro)

quando você pinta tinta nessa tela cinza
quando você passa doce dessa fruta passa
quando você entra mãe-benta amor-aos-pedaços
quando você chega nega fulô boneca de piche
flor de azeviche

você me faz parecer menos só
menos sozinho
você me faz parecer menos pó
menos pozinho

quando você fala bala no meu velho oeste
quando você dança lança flecha estilingue
quando você olha molha meu olho que não crê
quando você pousa mariposa morna lisa
o sangue encharca a camisa

quando você diz o que que ninguém diz
quando você quer o que ninguém quis
quando você ousa lousa pra qu'eu possa ser giz
quando você arde alardeia sua teia cheia de ardis
quando você faz da minha carne triste quase feliz

você me faz parecer menos só
menos sozinho
você me faz parecer menos pó
menos pozinho


*retirado de "por onde andará stephen fry?". no original foi dedicado alguém. esse post também é dedicado, mas a outra pessoa.
(imagem: detalhe profanizado de "são sebastião na coluna", de pietro vannucci (1447). idéia reciclada do cd acima.)

1 Comments:

  • ninguém comenta, comento eu: essa é uma das músicas mais bela que ouvi, poesia mais intensa de se ler. a presença do outro, o olhar, o movimento do outro, todas as sensaçoes no corpo de quem observa e ama. quem viveu sabe: "quando você olha, molha meu olho que nao crê... é quando você faz da minha carne triste quase feliz".
    ah, e o santo flechado só mantem-se sereno pq tem o céu (e além) pra fitar.

    By Blogger glau, at 11:32 AM  

Postar um comentário

<< Home