cafundó

15 dezembro, 2005

passo

então cada um foi para o seu lado e nao cabia olhar pra trás.
nao cabiam olhos, cheiro, ciúme. nao cabia parar. - "corre!". mas ali nao cabia correr,
tinha de ser passo a passo, dor a dor, porque dor cabia, sempre cabe em quem ama.
só não cabia mais ter esperança.
antes ele a sentia com os olhos. não eram olhos de ver, eram de sentir. faltavam quilômetros e suas retinas esfriavam: "era ela chegando", as retinas avisavam para o cérebro e a visão só aguardava.
ela o sentia nas pernas: podia fechar os olhos e suas pernas sabiam a exata distância, o pequeno movimento, a ida e a vinda.
mas os olhos ficaram cansados e nao cabia mais olhar e as pernas paralizaram.
- "corre!" e ela nao podia correr. ela estava sem ar, sem amor, sem espaço. sem suas pernas.
e foi cada um para o seu lado,
cada qual para o seu mundo e nao cabia mais sentir com os olhos e com as pernas.

- corre!
- correr pra onde?
- pro outro lado.
- correr como?
- use os olhos.

e ela não olhou para trás, não por descabimento, mas por medo: já havia ficado cega das pernas e temeu pelo movimento dos olhos.

1 Comments:

  • Conta uma piada da próxima vez, fico triste sempre que entro aqui, e é tão longe vir ao cafundó, que dó!

    By Anonymous Anônimo, at 4:13 PM  

Postar um comentário

<< Home